O ano de 2018 deixou arranhões em muitas famílias. Com a polarização política gerada pela eleição presidencial, muitos parentes entraram em brigas sérias e até mesmo deixaram de se falar, criando barreiras difíceis de serem superadas. Isso, porém, não é benéfico para as pessoas. A união com os familiares sempre trouxe uma série de vantagens ao longo da história e, pensando nisso, as festas de fim de ano e as férias de verão podem ser ótimas oportunidades para uma reconciliação.
Até mesmo porque a família é uma das instituições mais antigas presentes na sociedade. Não importa quantos membros ela tenha, nossas principais memórias de infância são moldadas ao redor dela. Sonhos, angústias, estímulos, alegrias, tristezas. Tudo isso é compartilhado no âmbito familiar e refletimos as experiências vividas nessa época durante todas as fases de nossas vidas.
Importância dos rituais
Quando pensamos em rituais familiares, especialmente neste fim de ano, a primeira imagem que vem à mente é a ceia de Natal. Não é por menos. A reunião em volta de uma mesa – seja em qual refeição for – é uma imagem muito poderosa. No nosso dia a dia, o ato de sentar à mesa é um momento para parar a rotina e dar atenção ao outro. Perguntar como foi o dia, o que fez na escola ou comentar sobre uma notícia impactante. É uma hora de união, que ganha contornos especiais no Natal e Réveillon.
No artigo Alimentação e comensalidade: aspectos históricos e antropológicos, a nutricionista Sueli Moreira, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, analisa a relação da história do homem com a história da alimentação. Segundo a pesquisadora, o momento das refeições representa uma função social desde o domínio do fogo, há mais de 300 mil anos. “A presença da mesa e o modo como as famílias lidavam com ela indicava a importância para com o ritual das refeições cotidianas e a estabilidade do grupo familiar que as tomava em comum. No século XIX, o comer representava um dos grandes momentos da vida familiar, e o ritual da refeição implicava na reunião de toda a família na sala de jantar à volta da mesa”, escreve.
Estudos interdisciplinares atuais mostram que a refeição em família contribui para o bom estado nutricional, relacional e para uma melhor qualidade de vida. Os jovens sentem isso com mais intensidade, com efeitos positivos para a percepção do quanto se é amado, além de melhora do desempenho dos pais na tomada de decisões e das notas dos alunos na escola.
No artigo, a pesquisadora também destaca que comer é uma ação realizada pelo indivíduo em seu interesse mais pessoal. “Comer acompanhado, porém, coloca necessariamente o indivíduo diante do grupo, usando-se o ato de comer como veículo para relacionamentos sociais: a satisfação da mais individual das necessidades torna-se um meio de criar uma comunidade”, diz.
Por isso que momentos como o Natal e o Réveillon são tão importantes. Eles contribuem para unir as pessoas e mostrar que não estamos sozinhos. Criam uma rede de proteção que, independente do que aconteça, estará próxima a você. Mas isso não fica restrito às reuniões em volta de uma mesa com comida. Pequenos rituais – como ir juntos ao clube nos finais de semana, tomar uma cerveja na beira da piscina ou brincar com os filhos – são tão importantes quanto, ajudando a criar laços que permanecerão por toda a vida.